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Olhar

agosto 3, 2010

As histórias sobre o amor impossível entre Majnun e Laila percorriam todo o Oriente. Os contadores de histórias as levavam de cidade em cidade, e todos insistiam, usando muitas metáforas, na beleza lendária da jovem mulher que havia conduzido Majnun à loucura e ao abandono errante.
Um califa, ao escutar tantas louvações, quis conhecer Laila. Ele a convocou ao seu califado, e ela foi. Ele a fez sentar diante de si.
Durante uma hora, sem se mexer, ele a olhou.
Em seguida, pegou uma xícara de chá, mudou de posição e olhou-a por mais uma hora.
Após esse tempo, ele levantou, deu alguns passos e voltou a sentar-se na frente de Laila, que não dizia uma palavra.
No final da terceira hora, ele lhe diz:
– Mas como acontece de contarem todas essas maravilhas sobre você? Eu a olho, eu a vejo. Não compreendo o que dizem sobre você.
– O senhor me vê – disse-lhe então Laila – mas o senhor não tem os olhos de Majnum.

Quando José morreu, todas as flores à beira da água ficaram desoladas e pediram ao rio algumas gotas de água para chorar.
– Ah – disse o rio – se todas as minhas gotas fossem lágrimas, eu não as teria suficiente para chorar a morte de José. Eu o amava.
– Como não amá-lo? – disseram as flores. – Ele era tão belo!
– Ele era belo? – perguntou o rio.
– E quem poderia saber melhor do que você? – disseram as flores. – A cada dia ele se debruçava por cima da margem e contemplava sua beleza nas suas águas.
– Mas não era por isso que eu o amava – disse o rio.
– E então, por quê?
– Porque, quando ele se debruçava, eu podia ver a beleza das minhas águas nos olhos dele.

Um escultor, sem nenhuma formação artística, possuía a habilidade de esculpir animais na madeira. Alguns desses animais eram conhecidos dele, mas outros, ele nunca tinha visto.
Um dia, quando esculpia uma girafa sem nenhum modelo nem imagem desse animal, alguém lhe perguntou, espantado, como ele procedia.
 – É muito simples – ele respondeu. – Pego meu pedaço de madeira, começo a trabalhar e tudo que não é a girafa eu jogo fora.

Um comentário

  1. Olhares
    Olhos certeiros, calculados, formatados.
    Olhos angustiados, medrosos, apaixonados.
    Olhos ejaculados, eróticos, suados.
    Olhos desconstruidos, desmascarados, desmedidos.
    Olhos presentes, vivos, amados.
    Olhos conscientes.



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